quarta-feira, 7 de março de 2012

O ESQUECIDO


Imagem: Site SPFC 1935


                Comecei a gostar de futebol lá pelos anos de 1992/ 93, tinha de oito para nove anos. Na verdade eu comecei a entender de futebol. Lembro do meu pai lendo jornal e eu, aprendendo a ler, ver a notícia do São Paulo campeão mundial no Japão e ficar maravilhado com a idéia de um time poder ganhar tudo, mesmo sentindo uma decepção de não ser o meu Corinthians.
               Meu pai, apaixonado pelo Corinthians e querendo me batizar corintiano, provavelmente com medo de me tornar um de muitos filhos ingratos que não torcem pelo time do pai, me levou ao estádio pela primeira vez em 1994. O estádio era o Pacaembu, e o Corinthians já eliminado do Paulistão daquele ano enfrentava a Ferroviária de Araraquara. Obviamente fiquei maravilhado com o funcionamento do gigantesco mundo do futebol e a magia que ele proporcionava. O Corinthians venceu por 4 x 1, e fui considerado pé-quente por todos que nos acompanhavam naquele dia.
               Na verdade o mais importante estava por vir, quando acabou o jogo o meu pai arrastou este moleque boquiaberto para o vestiário para ver se conseguíamos ver algum jogador, não só consegui vê-los como também peguei autógrafo de vários deles, como Viola, Casagrande, Paulo Sérgio e etc. No final, quando a noite parecia terminada, saímos no estacionamento e vi um carro vermelho com duas pessoas dentro, corremos até lá e vimos que era a franzino jogador do Corinthians, o meia Rivaldo. Os amigos do meu pai na verdade só foram falar com ele por brincadeira e não porque estavam vendo um ídolo. Lembro-me da sua cara de assustado e de seu bigodinho tipo latino, e me lembrei (já havia esquecido?) das reportagens sobre a contratação do Corinthians junto ao Mogi - mirim, do “Carrossel Caipira”, que além de Rivaldo, tinha Leto e Válber. Fiquei feliz de vê-lo, mais por ser alguém que já tinha visto na televisão do que por um ídolo mesmo.
               Aqui começou o esquecimento de Rivaldo. Meses depois ele foi esquecido pelo Corinthians e simplesmente foi jogar no Palmeiras, se juntando a Evair, Edilson, Roberto Carlos, Cafu, Edmundo e Cia, para formar um dos melhores times da história do Palmeiras. E como jogava este pernambucano de pernas e passes longos. Na final do Brasileirão daquele ano ele ajudou a acabar com o meu Corinthians. Ninguém se lembrou da ajuda dele. O Palmeiras mesmo nunca o chamou para um documentário ou festividade.
               Em 97, ele foi jogar no La Curuña da Espanha e como sempre arrebentou por lá, fazendo com que Zagalo o convocasse para a Copa de 1998 na França. Mais do que nos lembramos desta Copa? Do fracasso brasileiro na final, das convulsões de Ronaldo Fenômeno, mais não de Rivaldo. Sim ele estava na Copa de 98. Mesmo assim, depois de tudo isso, Rivaldo trocou o La Curuña pelo Barcelona, e foi eleito o melhor jogador do mundo de 1999, é amigo, melhor do mundo.
               Na Copa de 2002, na Coréia e no Japão, Rivaldo foi convocado pelo contestado Felipão, que teimou em não levar o Romário. Que bom que todos pensavam no Romário e nem ligaram pra convocação do Rivaldo, pois se não contestariam se perguntando: “quem é Rivaldo?”. Como sempre ele arrebentou na copa, deu assistência, fez gol e ajudou o teimoso Felipão a teimar em ganhar uma Copa. É isso mesmo amigo, Rivaldo foi campeão da Copa do Mundo com o Brasil.
               Obviamente nos anos em que se seguiram Rivaldo foi esquecido, e perambulou pela Europa e não foi pra Copa de 2006, acho que não se encaixaria no “quarteto mágico” de Parreira. Jogou em vários clubes e até na Grécia. Alguém me disse, certa vez, que ele voltou para o Brasil, pra jogar no Cruzeiro de Minas Gerais, sinceramente, não lembro, ou esqueci?
               No ano passado Rivaldo juntou todo o dinheiro de sua carreira e ao invés de fazer uma festa de arromba com um bando de puxa-saco, pra ver se conseguia alguma despedida, talvez da seleção, sei lá, ele comprou o time que o projetou para o futebol o Mogi – mirim, que talvez foi o único que não o esqueceu, e estava lá exercendo o seu papel de dono/presidente/jogador, quando foi chamado este ano para jogar no São Paulo, será que lembraram do Rivaldo? Os programas de esportes da TV brasileira tiveram que correr aos seus arquivos empoeirados para se lembrar e lembrar o telespectador quem era o Rivaldo, mas não acharam nada nestes arquivos, pois as imagens do Rivaldo ainda são usadas toda vez que se fala de seleção, mais ninguém se lembrava dele nas imagens, “ah... olha acho que o Rivaldo tocou essa bola que foi gol..... acho que ele fez esse gol..... ah foi ele que deu o corta-luz para o Ronaldo fazer o segundo gol do Brasil na final contra a Alemanha e garantir a copa de 2002.... ahhh lembrei!!!!
               A pior de todas ainda estava por vir, com o esquecimento de Rivaldo no banco de reservas de um jogo de quartas de final de Copa do Brasil, pelo queridíssimo mestre Carpeggiani (aquele mesmo que barrou o Roger por ele ter pousado nu, ah, disso você lembra né?). Tardiamente o Rivaldo “soltou o verbo” e disse poucas e boas, e muitos o criticaram por não respeitar a hierarquia do time, a comissão técnica, os companheiros de elenco.
               Na verdade o Rivaldo não esta falando aquelas duras palavras ao Carpeggiani, e sim a todos nós, que de certa forma o deixamos no anonimato. Estas palavras era pra vocês senhores entendedores de futebol, que não sabem dizer o que é ser bom ou ruim, e qual a importância de um coadjuvante numa bela história, e olha que me pergunto se o Rivaldo foi uma coadjuvante mesmo. Também me pergunto, como que jogadores que fizeram tão pouco pelo futebol podem ser considerado estrelas milionárias e “galáticas” e o Rivaldo que fez tudo e é considerado nada? O que mais será o que o Rivaldo poderia ter feito além de ser Campeão do Mundo e Melhor do Jogador do Mundo para ser um craque?
               O pior não é ser um bom jogador de futebol e não ter a chance de ter brilhado no esporte bretão, como ouvimos da boca da maioria dos brasileiros frustrados, e nem de ter péssimos jogadores, que aliás não sabem nem bater um escanteio, ganhando fortunas, é ser o melhor do mundo e ninguém dizer ao menos obrigado. Rivaldo, eu te digo obrigado, e também desculpas, pois só depois que você “soltou o verbo” eu me lembrei de você.

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