Comecei a gostar de futebol lá pelos anos de 1992/ 93, tinha de oito para nove anos. Na verdade eu comecei a entender de futebol. Lembro do meu pai lendo jornal e eu, aprendendo a ler, ver a notícia do São Paulo campeão mundial no Japão e ficar maravilhado com a idéia de um time poder ganhar tudo, mesmo sentindo uma decepção de não ser o meu Corinthians.
Meu pai, apaixonado pelo
Corinthians e querendo me batizar corintiano, provavelmente com medo de me
tornar um de muitos filhos ingratos que não torcem pelo time do pai, me levou
ao estádio pela primeira vez em 1994. O estádio era o Pacaembu, e o Corinthians
já eliminado do Paulistão daquele ano enfrentava a Ferroviária de Araraquara.
Obviamente fiquei maravilhado com o funcionamento do gigantesco mundo do
futebol e a magia que ele proporcionava. O Corinthians venceu por 4 x 1, e fui
considerado pé-quente por todos que nos acompanhavam naquele dia.
Na verdade o mais importante
estava por vir, quando acabou o jogo o meu pai arrastou este moleque
boquiaberto para o vestiário para ver se conseguíamos ver algum jogador, não só
consegui vê-los como também peguei autógrafo de vários deles, como Viola,
Casagrande, Paulo Sérgio e etc. No final, quando a noite parecia terminada,
saímos no estacionamento e vi um carro vermelho com duas pessoas dentro,
corremos até lá e vimos que era a franzino jogador do Corinthians, o meia
Rivaldo. Os amigos do meu pai na verdade só foram falar com ele por brincadeira
e não porque estavam vendo um ídolo. Lembro-me da sua cara de assustado e de
seu bigodinho tipo latino, e me lembrei (já havia esquecido?) das reportagens
sobre a contratação do Corinthians junto ao Mogi - mirim, do “Carrossel
Caipira”, que além de Rivaldo, tinha Leto e Válber. Fiquei feliz de vê-lo, mais
por ser alguém que já tinha visto na televisão do que por um ídolo mesmo.
Aqui começou o esquecimento de
Rivaldo. Meses depois ele foi esquecido pelo Corinthians e simplesmente foi
jogar no Palmeiras, se juntando a Evair, Edilson, Roberto Carlos, Cafu, Edmundo
e Cia, para formar um dos melhores times da história do Palmeiras. E como
jogava este pernambucano de pernas e passes longos. Na final do Brasileirão
daquele ano ele ajudou a acabar com o meu Corinthians. Ninguém se lembrou da
ajuda dele. O Palmeiras mesmo nunca o chamou para um documentário ou
festividade.
Em 97, ele foi jogar no La Curuña
da Espanha e como sempre arrebentou por lá, fazendo com que Zagalo o convocasse
para a Copa de 1998 na França. Mais do que nos lembramos desta Copa? Do
fracasso brasileiro na final, das convulsões de Ronaldo Fenômeno, mais não de
Rivaldo. Sim ele estava na Copa de 98. Mesmo assim, depois de tudo isso,
Rivaldo trocou o La Curuña pelo Barcelona, e foi eleito o melhor jogador do
mundo de 1999, é amigo, melhor do mundo.
Na Copa de 2002, na Coréia e no
Japão, Rivaldo foi convocado pelo contestado Felipão, que teimou em não levar o
Romário. Que bom que todos pensavam no Romário e nem ligaram pra convocação do
Rivaldo, pois se não contestariam se perguntando: “quem é Rivaldo?”. Como sempre
ele arrebentou na copa, deu assistência, fez gol e ajudou o teimoso Felipão a
teimar em ganhar uma Copa. É isso mesmo amigo, Rivaldo foi campeão da Copa do
Mundo com o Brasil.
Obviamente nos anos em que se
seguiram Rivaldo foi esquecido, e perambulou pela Europa e não foi pra Copa de
2006, acho que não se encaixaria no “quarteto mágico” de Parreira. Jogou em
vários clubes e até na Grécia. Alguém me disse, certa vez, que ele voltou para
o Brasil, pra jogar no Cruzeiro de Minas Gerais, sinceramente, não lembro, ou
esqueci?
No ano passado Rivaldo juntou
todo o dinheiro de sua carreira e ao invés de fazer uma festa de arromba com um
bando de puxa-saco, pra ver se conseguia alguma despedida, talvez da seleção,
sei lá, ele comprou o time que o projetou para o futebol o Mogi – mirim, que
talvez foi o único que não o esqueceu, e estava lá exercendo o seu papel de
dono/presidente/jogador, quando foi chamado este ano para jogar no São Paulo,
será que lembraram do Rivaldo? Os programas de esportes da TV brasileira
tiveram que correr aos seus arquivos empoeirados para se lembrar e lembrar o
telespectador quem era o Rivaldo, mas não acharam nada nestes arquivos, pois as
imagens do Rivaldo ainda são usadas toda vez que se fala de seleção, mais
ninguém se lembrava dele nas imagens, “ah... olha acho que o Rivaldo tocou essa
bola que foi gol..... acho que ele fez esse gol..... ah foi ele que deu o
corta-luz para o Ronaldo fazer o segundo gol do Brasil na final contra a
Alemanha e garantir a copa de 2002.... ahhh lembrei!!!!
A pior de todas ainda estava por
vir, com o esquecimento de Rivaldo no banco de reservas de um jogo de quartas
de final de Copa do Brasil, pelo queridíssimo mestre Carpeggiani (aquele mesmo
que barrou o Roger por ele ter pousado nu, ah, disso você lembra né?).
Tardiamente o Rivaldo “soltou o verbo” e disse poucas e boas, e muitos o
criticaram por não respeitar a hierarquia do time, a comissão técnica, os
companheiros de elenco.
Na verdade o Rivaldo não esta
falando aquelas duras palavras ao Carpeggiani, e sim a todos nós, que de certa
forma o deixamos no anonimato. Estas palavras era pra vocês senhores
entendedores de futebol, que não sabem dizer o que é ser bom ou ruim, e qual a
importância de um coadjuvante numa bela história, e olha que me pergunto se o
Rivaldo foi uma coadjuvante mesmo. Também me pergunto, como que jogadores que
fizeram tão pouco pelo futebol podem ser considerado estrelas milionárias e
“galáticas” e o Rivaldo que fez tudo e é considerado nada? O que mais será o
que o Rivaldo poderia ter feito além de ser Campeão do Mundo e Melhor do
Jogador do Mundo para ser um craque?
O pior não é ser um bom jogador
de futebol e não ter a chance de ter brilhado no esporte bretão, como ouvimos
da boca da maioria dos brasileiros frustrados, e nem de ter péssimos jogadores,
que aliás não sabem nem bater um escanteio, ganhando fortunas, é ser o melhor
do mundo e ninguém dizer ao menos obrigado. Rivaldo, eu te digo obrigado, e também
desculpas, pois só depois que você “soltou o verbo” eu me lembrei de você.
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