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Nesta semana tive a oportunidade de participar de um simpósio promovido pelo Centro de Preservação Cultural da USP denominado “Experiência Cultural e Patrimônio Universitário”. Resumidamente as discussões foram muito proveitosas principalmente para um iniciante com eu nesta área tão miscigenada e multidisciplinar que é a área de Preservação e Conservação de Patrimônios Culturais. As discussões não se detiveram apenas no imaginário do patrimônio universitário e sim em uma discussão mais ampla sobre todo o processo de institucionalização da preservação e guarda do patrimônio como um todo. O evento trouxe discussões de pessoas ligadas a Arquivos Históricos, Centro de Memória, Museus, Centros de Documentação universitária ou não, ampliando ainda mais esta área do conhecimento.
Nesta semana tive a oportunidade de participar de um simpósio promovido pelo Centro de Preservação Cultural da USP denominado “Experiência Cultural e Patrimônio Universitário”. Resumidamente as discussões foram muito proveitosas principalmente para um iniciante com eu nesta área tão miscigenada e multidisciplinar que é a área de Preservação e Conservação de Patrimônios Culturais. As discussões não se detiveram apenas no imaginário do patrimônio universitário e sim em uma discussão mais ampla sobre todo o processo de institucionalização da preservação e guarda do patrimônio como um todo. O evento trouxe discussões de pessoas ligadas a Arquivos Históricos, Centro de Memória, Museus, Centros de Documentação universitária ou não, ampliando ainda mais esta área do conhecimento.
A
minha atenção para as discussões já foi atentada no primeiro dia. Quando
cheguei ao Teatro da Faculdade de Medicina, onde estava sendo realizado o
evento, um senhor grisalho, tipo Leslie Nielsen, estava fazendo a sua comunicação,
com uma oratória impecável, bem diferente de outros pesquisadores destes
congressos que mais lêem do que falam, este senhor mostrou domínio sobre o
assunto a ser discutido. No final da apresentação todos aplaudiram e fui
confirmar no caderninho de apresentações quem ele era. Qual foi a minha
surpresa quando vi que era ninguém menos que Fernando Morais, um dos melhores
historiadores do Brasil, e simplesmente leitura obrigatória em muitas
disciplinas do curso de história. É muito estranho e diferente você se
encontrar com a sua “bibliografia viva”, ali do seu lado, e vê-lo pegando o
metrô pra ir embora, esquecemos que estas pessoas são tão normais ou loucas com
a gente.
Fernando
Novais em sua fala provocou a plateia com indagações e questionamentos que a
muito eu andava fazendo, como por exemplo, a história é arte? Nunca soube
responder esta pergunta, e dentro do fato de seguir a risca os grandes manuais
de como escrever história que você tem que decorar na faculdade, e também com
as palavras nada inspiradoras de professores que olham para o seu texto e dizem:
“Isto não é história”, eu me questionava se tinha feito o curso certo,
pois esperava um curso mais humanitário e artístico e menos técnico. Aprendi
assim que a História, como ciência, tinha sido criada apenas para ser mais uma
auxiliar de outras ciências.
O
professor Novais explicou que o grande problema do historiador era exatamente
quando ele, por prestígio talvez, decidiu ser um cientista. A partir deste
momento a história deixou de ser, digamos, uma coisa leve e passou a ser mais
um processo burocrático, principalmente porque deixou de expor o passado no
presente e passou a se questionar do porque das coisas, típico dos cientistas
que querem explicação para tudo. Ou seja, a história deixou de ser arte e
transformou-se em ciência. O
exemplo disso foi a total decadência do interesse popular pela História.
Este
período artístico da história foi antes da Belle Epoque, do qual a história
fazia parte dentro da chamada cultura literária. Este tipo de história
literária era e é muito contestada nas faculdades de história, e em muitos
momentos entrávamos em calorosas discussões sobre o que podia e o que não podia
ser utilizado como documento histórico. Dentro da minha formação tipicamente
científica, ficava me perguntando se os livros de Machado de Assis seriam ou
não um documento histórico sobre a sociedade do século XIX. E mais ainda, o que
dizer de Heródoto, o pai da história, que não utilizava nenhum método para
contar a história, ele seria menos historiador do que eu?
Sendo assim, foi muito bom ouvir de um professor da capacidade de Fernando Novais
que, de certa forma, temos que recuperar ou pelo menos não dispensar este lado
artístico da história e de nos lembrarmos que um dia fizemos parte da cultura.
Esta vontade científica do historiador me deixava angustiado com a profissão a
ponto de em muitos momentos querer negá-la. Vendo pelo lado artístico a
História passa a ficar mais romântica, menos mecânica e mais participativa nas
questões referentes ao mundo e a sociedade, e principalmente, torna-se mais
intrínseca ao ser humano, seu objeto de estudo, por muitas vezes esquecida.
Acredito
que este diálogo ou estes questionamentos só foram possíveis em um evento multidisciplinar.
A multidisciplinaridade é que provoca estas discussões, pois não vemos, mas
estamos cometendo erros, e às vezes temos que ouvir os geógrafos, arquitetos,
antropólogos, arqueólogos têm a nos dizer sobre nossa disciplina. Acredito que
esta foi à grande “sacada” do evento.
Parece-me
que a história agora ficou mais leve, e passei a ter mais orgulho de dizer que
sou um historiador sim, artístico e não de manuais.